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Impossível esquecer os dias, a madrugada, por volta das 4h0, às idas à Salvador. Tudo bem, até minha mãe pôr no meu rosto dois fundos de garrafa bem encaixados, numa armação que tomava quase todo meu rosto: lembrança pesada, diferente do sapato de verniz vermelho, esse, trazia a leveza da sandália alada de Perseu. O motivo da viagem era a consulta com o médico das vistas. Já imaginava o troca-troca de lentes e a tortura: _não, não, o Y , o Q, O J... não deixaram meus passos mais leves.
Tia Matildes (tia Mate), minha companheira de viagem à capital já aguardava na porta. Tudo com ela era rápido, sem muita conversa: caminha... a tia-avó delicada de bons modos e excelente conselhos: mastigue com a boca fechada, sente-se como uma mocinha, não corra, não grite, não interrompa, não suspenda o vestido, etc. Chegávamos bem cedo na rodoviária mórbida (uma nuvem escura pairava sobre ela) e enquanto minha tia providenciava as passagens, tricotava... eu guardava meus olhos de vidro arregalados, arranhados, de tanto que escondia no bolso, na mochila, na sacola, na merendeira...
Lá estavam: as gentes, os bichos, as coisas, a balança, que poucas ou mesmo raras pessoas percebiam, por vezes, me pegava sem graça, quando alguns passantes esbarravam em mim. Mas, retornava à cena: juntava-me a eles naquela agonia, tudo misturado: “Deus é mais!”: _não disse isso, foi um deles.
Cada pedacinho do painel da rodoviária agitava-se na parede e parecia convidar à cena familiar. Logo no primeiro olhar achei tudo aquilo esquisito, muito bagunçado, diferente dos traços dos desenhos do meu Grande (Gigante) livro Walt Disney, dos contos “Encantados”, das fotonovelas de minha mãe, contudo, trazia algo que me prendia, tocava, talvez, as lendas, a caipora, as sereias, o desenho mimeografado de um Índio para pintar no recreio... ali, possivelmente, corriam os Contos de Mamãe Gansa, de Charles Perrault, falavam as Fábulas de La Fontaine. Creio que havia o Nariz, de Narizinho, em suas Reinações, de Monteiro Lobato. Fatos colados e descolados do cotidiano de uma feira, em Feira de Santana.
A rodoviária deste tempo era imensa e aquele teatro na parede _ nossa! História que não acaba mais, o pescoço doía, mas, o que machucava mais, era deixa-los ali, sozinhos, querendo atenção, apreciação no contar dos causos, e quem sabe ouvir o “Deus te guie”, tal qual, desejaram a Raimundo.