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Sandra Campos
    Sandra Campos nasceu em Feira de Santana-BA e formou-se em Pedagogia pela UEFS. Na universidade começou a escrever crônicas que eram lidas em algumas aulas. Voltou a escrever em 2013, por prazer pessoal. Em 2014 passou a publicar seus textos no jornal A Tribuna, de Rondonópolis-MT, cidade onde mora atualmente e desde 2015 é colunista do Viva Feira. A primeira crônica publicada em agosto de 2014, “O homem avulso”, já revelava as linhas de força de seu estilo: a escrita leve e espontânea, o lirismo e a intertextualidade, o olhar sutil e ao mesmo tempo agudo dos lances da vida. A crônica “Leve sua filha à feira”, escrita em janeiro de 2014, retrata a feira livre da Estação Nova, que ela costumava frequentar aos domingos com duas amigas de infância. Essa crônica leva o leitor a pensar na beleza e nas lições que não raro se ocultam sob a pseudobanalidade do cotidiano. A crônica que a autora considera a mais carregada de sentimentos e emoções, e também a mais comentada no site do jornal, é “A carta”, uma homenagem a sua mãe Celina. A cronista lançará em breve seu livro de estreia, “O homem avulso: crônicas e contos”, Editora Penalux. Aguardem.  (Texto: Marcelo Brito da Silva)



CRÔNICAS E OUTROS TEXTOS

Um amor sênior


Publicado em: 18/11/2016 - 11:11:43


O amor é o tema central do livro de Gabriel García Márquez, escritor colombiano, que pelo conjunto de sua obra conquistou, em 1982, o prêmio Nobel em Literatura. Seu livro, “O amor nos tempos do cólera”, apresenta a história de amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, e a primeira noite de amor deles: ele com setenta e seis anos e ela com setenta e dois.

Florentino Arisa conheceu Fermina Daza quando era aprendiz na Agência dos Correios. Ao entregar um telegrama na casa da adolescente de treze anos, pela janela do quarto de costura avista Fermina. Aquele olhar casual foi a origem de um cataclismo de amor que terminaria pouco mais de meio século depois. Para ele, a bela com aparência de deusa coroada, estava ao alcance dos seus sonhos. Florentino não sabia que a menina, ao vê-lo pela primeira vez, sentiu pena dele pelo seu aspecto sombrio e de desamparo, até achou que estivesse doente.

Depois daquele olhar, ele inicia sua vida sigilosa de caçador solitário. Por vários dias sentava-se no banco da praça, só para vê-la passar no caminho do Colégio. Vê-lo sentado todos os dias era uma diversão para Fermina, que aos poucos foi se convertendo em ansiedade e sentia o sangue virando espuma na urgência de vê-lo. Trocaram correspondências por três anos, escondido do pai da moça, que desejava para a filha um homem rico de família tradicional e por este propósito foi capaz de empurrá-la para a viagem do esquecimento.

Ao retornar da viagem, depois de uns amores longos e contrariados por Florentino, sem toque nem cheiros, só cartas, fantasias e imaginações, Fermina Daza ao ver Florentino Ariza tão perto, sentiu por ele o abismo do desencanto e o rechaçou. Ela teve a revelação completa do próprio engano, da própria ilusão. Com a frieza de quem por comparação aprendeu a seleção social, se sentindo senhora de si mesma, Fermina Daza o apagou de sua vida com um gesto da mão. “Não, por favor, disse. Esqueça.” Meses após estava casada com um médico rico, Juvenal Urbino, filho de um marquês, pois ele sucumbiu sem resistência aos encantos plebeus de Fermina Daza, que conquistou sem querer e para sempre o mais cobiçado dos solteiros de sua cidade.

Décadas se passaram e Florentino Ariza nunca a esqueceu, todos os dias lembrava-se dela. Na velhice, desprezou o amor de uma jovem quando chegou finalmente o momento tão esperado por ele, de conseguir reconquistar o seu amor eterno: Fermina Daza.

Não obstante tantos dramas existenciais que envolvem seu romance, García Márquez descreve com beleza e riqueza de detalhes seus personagens e a noite de amor entre Florentino e Fermina, sem falsos pudores, com luzes acesas, enquanto Fermina Daza, ao despir-se, diz “Não olhe” e ele pergunta “Por quê?”. “Não vai gostar” é o que ela responde.

Ele a viu tal como a imaginara: ombros enrugados, seios caídos, costelas forradas por um pelame pálido e frio. O primeiro ato de amor consumado aconteceu só na manhã do dia seguinte, sem encantos juvenis. Fizeram um amor rápido e triste, mas não se separaram um instante nos dias seguintes, pois lhes bastava a ventura simples de estarem juntos até o fim da vida. Bastava-lhes a capacidade de olharem para si mesmos e para o outro, pois o olhar para si encontrou o outro, o olhar no outro encontrou a si mesmo.

Essa história de um amor enlouquecedor que ultrapassou décadas e obstáculos, contada numa prosa encantadora, nos leva a pensar que, no fundo, o que move a vida e o envelhecer é e sempre será o Amor.



Fonte: Sandra Campos/ A Tribuna MT







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