Na rádio Quionda, na pequena cidade de Literacity, ainda num ambiente rural, aos sábados pela manhã existia o programa, sob o comando do locutor Heitor, Besteiranças – besteiras de crianças, de 8 aos 12 anos, que vinham das escolas, indicadas pelas diretoras, de acordo com a conveniência.
Certo dia a diretora levou Perebinha, menino da roça, de 12 anos, que foi expulso de uma escola pública e passou para outra particular, e assim aconteceu:
EPISÓDIO I - FALANDO DA ESCOLA
LOCUTOR:
- Bom dia pessoal! Temos aqui o nosso convidado especial. Ele é o menino esperto, com o apelido de Perebinha, da escola Rego Melo Pinto.
PEREBINHA
- Olá seu locuteiro! Perebinha não é apelido, é meu nome mesmo. Tenho 12 anos e estou começando a estudar agora, mas ainda não sei quase nada das letras. A professora Coxuda não tem muita paciência comigo. Já entrei na escola desde os 4 anos, mas eu não ficava. Problemas da escola, o senhor sabe.
O LOCUTOR:
- Sou locutor e não locuteiro. Você só começou a estudar com 8 anos? Problemas da escola, não é? Hummm. Sei como é. Por que o nome da professora é Coxuda? E por que o seu nome é Perebinha?
PEREBINHA
- Eita zorra! Já começou perguntando demais. Sou Filho de seu Pereira e dona Binha. Ficou Pere e Binha. Entendeu? E como é o seu nome seu locutor?
Eu quero estudar, mas a professora de lá de perto da roça não deixa, Mostrando as duas coxas dentro de uma saia da farda pequena, parecendo a escada rolante do shopping que vai para a praça de alimentação, da cor de duas melancias compridas. Quem estuda desse jeito? Diga aí!
O LOCUTOR:
- O meu nome é Heitor. Menino, deixe de ser ousado. Você estuda ou vai olhar as pernas da professora? Peça perdão a Deus e vamos continuar.
PEREBINHA
Olhar eu não olho não, mas é as pernas que ficam olhando para mim o tempo todo. Mesmo assim eu quero pedir perdão, mas que uma perdição isso é.
O LOCUTOR:
- Perdição de quê, rapaz? Deixe pra lá! Tem coisas que a gente não deve dizer, pois elas não gostam. O que você já aprendeu na escola, seu perturbado?
PEREBINHA
- Um dia a diretora entrou na sala e disse que só queria ouvir verdade, que não gostava de mentiras, e perguntou: O que vocês acham de mim? Eu disse: a senhora é feia que dá medo. Ela não gostou. Tem culpa eu? Eu aprendi também que toda escola tem um lado bom, que é o lado de fora, pois tem muitas perguntas que eu faço e ninguém responde.
O LOCUTOR:
- Isso é um absurdo. Uma criança fazendo pergunta e ninguém sabe a resposta? Mentira. Pergunte!!!
PEREBINHA
- Quer ver? Marido e mulher de bicho é uma doidice, então responda. Se o marido da galinha é o galo, o da gata é o gato, da pata é o pato, por que a mulher do boi não é a boia?
Por que o marido da cobra não é o cobro? A mulher do bode não é a boda? O marido da aranha não é o aranho? Por que a mulher do cavalo não é a cavala? E...
O LOCUTOR:
- Êpa! Chega! Pare rapaz. Isso é coisa do português.
PEREBINHA
- Que coisa do português nada? Seu Luiz da padaria não sabe nada. A mulher dele é que já foi professora. Toda vez que eu vou na casa dela para me ajudar no dever da escola, ele quer brigar comigo. Deve ser por que eu grito o nome dela na porta. Nunca quis ser o primeiro lugar em nada, por isso tenho amigos.
O LOCUTOR:
- Será que o segundo lugar será sempre antes do terceiro? Depende. Se for num elevador subindo, está certo. Se for descendo, é depois do terceiro. Como é o nome da mulher do português?
PEREBINHA
- Curioso héim? Parece que você quer é fofocar. O nome dela é Choxonalva, mas todo mundo chama de dona Xoxó. Eu
grito: Seu Manoel, dona Xoxó tá?
O LOCUTOR:
- Vixe. Deixe prá lá. Cala essa boca Pestilento! Tem muita gente escutando a gente nesta hora. Estou vendo que esse programa vai ser complicado para mim, todas as vezes que você for o entrevistado.
PEREBINHA
- Não sou pestilento nem nada. Eu sou o limão que vai pingar no arranhão do seu joelho; sou a brasa acesa da fogueira que vai cair dentro de sua calça. Coisas acontecem:
Um dia desses eu quase apanhei do pai de Joaninha na saída da escola. Ele perguntou se eu tinha beijado ela de 12 anos. Disse que sim, mas foi porque quatro amigas dela me seguraram para ela me dar o beijo. Depois pediu para eu guardar o meu carrinho na garagem dela. Foi então que o pai dela botou as duas mãos na cabeça e foi embora.
O LOCUTOR:
- Essa Joaninha é demais. Coitado desse pai, passou a maior vergonha na porta da escola.
PEREBINHA
- Eu pedi perdão a ele, mas ele foi embora. Porque existem pessoas como os espinhos das rosas e dos mandacarus? Brigam por tudo. Até por time, mesmo com os seus jogadores virando adversários.
O LOCUTOR:
- Verdade! Deixa pra lá. Por hoje é só. Assunto encerrado.
Até a próxima semana. Thau pessoal!
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Texto do livro – Rapsódia de Perebinha na Rádio Quionda - ISBN 978-65-86453-00-3
(Sempre teremos novas peripécias de Perebinha nesta coluna)
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