Não é que o programa anterior foi uma audiência danada? Na semana seguinte teve de novo:
O LOCUTOR:
- Temos aqui o nosso convidado especial Perebinha, que voltou, e a gente já conversou com ele e os pais, para não fazer perguntas malucas. Olá perebinha! Dê bom dia aos ouvintes.
PEREBINHA
- Olá seu locuteiro! Bom dia ouvintas e ouvintos. Você está certo. Olha eu aqui de novo.
O LOCUTOR:
- Fale só ouvintes rapaz. Não sou locuteiro. Sou locutor. Já lhe expliquei. Os ouvintes pediram para você voltar e eu gostei, você é muito inteligente, mas fiquei preocupado e nervoso com algumas perguntas danadas que você fez. Estamos sabendo que faz poesia, e algumas professoras não gostam muito, porque às vezes você não faz a rima, deixando as escritas tortas sem ser poesia, falando de coisas complicadas para a sua idade. Será que lembra de alguma para falar hoje?
PEREBINHA
- Sei fazer sim. Sempre me lembro de alguma. Quer ver?
Olhe só: “Se o galo canta e o macaco assobia, por que o jegue não entra no buraco da Gia?”
O LOCUTOR:
- Menino, que maluquice é essa? Isso é poesia!
PEREBINHA
- Rimou sim, meu velho, é poesia da boa, mas como o senhor não entendeu eu vou fazer outra para ver se é mais interessante: “Eu gosto de uma menina e não quero que ninguém pegue, mas se ela não me queria, porque então roubou o meu jegue?”
O LOCUTOR:
- Miserável! Quem lhe disse que isso é poesia? Não tem pé e nem tem cabeça. Que menina vai roubar um jegue? Deus me livre! Você não tem outra melhor?
PEREBINHA
- Para rimar, eu boto o jegue em qualquer lugar. Já vi que o senhor não entende de poesia. Então eu vou falar uma maior.
“Um dia eu estava escondido, atrás de uma bananeira, poderia estar cavando, ou fazendo outra besteira. Quando eu saí de lá com o olho arregalado, vi que aquele meu calção estava todo rasgado. Vi então dona Sinhá, na mão correndo com um taco, gritou para mim ouvir: vai esconder esse seu saco! Desse dia eu não esqueço, fugi para o riacho de baixo, onde a velha ponte caiu, quem não gostar da poesia vá tomar banho no rio.
O LOCUTOR:
- Vixe! Que susto rapazinho! Fiquei com medo do final. Você quase falou um palavrão. Aqui não pode. Tem muita criança e mulheres ouvindo o programa numa hora dessa. Deveria ler outras poesias boas para aprender fazer as suas.
PEREBINHA
- As minhas são boas, é a sua cabeça que é cheia de bobagem. Eu estava na ponte e falei do rio. Vai outra: - Entrei com minha canoa no rio Paraguaçu ...
O LOCUTOR:
- Para Rapaz!!! Olha lá o que você vai dizer...Vai rimar Paraguaçu com o quê?
PEREBINHA
- Vai deixar eu continuar? Nada de complicação. “Entrei com a minha canoa no rio Paraguaçu. Na canoa não chupei nem cajá e nem umbu, porque dentro da sacola eu só enfiei acerola”.
O LOCUTOR:
- Epa! Agora piorou. Cadê a rima do rio com acerola? Nessa você se lascou Perebinha! kkk
PEREBINHA
- Espere aí doutor, ainda não terminou. Deixa que eu vou continuar, com a parte mais importante dessa história, e quero saber de quem gosta: - “Eu estava na canoa, tomando de suco de umbu, quem não gostar desse suco, vá tomar o de caju”.
O LOCUTOR:
- Êpaaaaaaaa! Enlouqueceu? Você mistura a canoa com esse suco de caju? Que maluquice é essa? Cuidado com essas rimas. Você me mata de susto. Tem muita gente escutando! Talvez pudesse falar uma poesia lírica, de amor.
PEREBINHA
- Lírica é palavrão? Não entende o poeta poetando. Fiz uma poesia de um filme que botaram para a gente assistir na escola. Lá vai: - “Sou menino inteligente, quem disse foi minha tia. Não vou no jardim do Eden, nem de noite e nem de dia, e escrevo tudo sozinho, usando minha caneta, pois Romeu comeu a maçã, que se chama Julieta.
O LOCUTOR:
- Êpa!!! Agora misturou tudo. A maçã foi Adão e Eva. Que perturbação. Esse filme de Romeu e Julieta existe mesmo, do livro de Shakespeare..
PEREBINHA
- Saúde !
O LOCUTOR:
- Não espirrei e nem estou gripado. É o nome do autor do livro. Já assisti esse filme triste. Declame uma última poesia que você fez para a namorada.
PEREBINHA
- Tá bom. Essa foi especial no dia dos namorados: “Dei pedaço de melão, ela deixou beijar a mão. Dei pedaço de peixe na telha, e ela deixou beijar a orelha. Dei pedaço de frango sem osso, e ela deixou beijar o pescoço. Dei pedaço de
perdiz, e ela deixou beijar o nariz. Dei um doce de Caju e ela deixou eu ....
O LOCUTOR:
- EEEEEEpa!!! Nem termine. Está bom por hoje. Deus me livre! Vamos conversar com o seu pai, para evitar esses sustos. Nos próximos programas vamos pagar um cachêzinho. Thau pessoal!
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Texto do livro – Rapsódia de Perebinha na Rádio Quionda - ISBN 978-65-86453-00-3
(Sempre teremos novas peripécias de Perebinha nesta coluna)
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