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TODA GRAÇA DESTA VIDA

Da série: VERDADES E MENTIRAS SOBRE FEIRA DE SANTANA ou MINHA PÁTRIA, MINHA LÍNGUA!
Publicado em: 19/02/2024 - 16:02:33
Fonte: Emanoel Freitas


        Fiquei estupefato, momentaneamente catatônico, quando aquele senhor, desconhecido por mim, mas perfeitamente reverenciado entre os adultos presentes, me questionou: "Qual a sua graça?"; realmente eu não sabia o que dizer, nunca havia pensado em ter nenhuma graça, ou mesmo, sequer, ser engraçado, era uma completa novidade. Impossível não nos assombrarmos diante do novo. Entre o espanto e a tentativa de entender o significado da pergunta feita, passou uma dezena de ideias por minha cabeça, e por ser uma locução feminina, a um menino que normalmente, pela pouca experiência, está preocupado inconscientemente com sua representação no mundo, e comigo não foi muito diferente, ficou o desespero de estar sendo confundido na minha sexualidade, até que outro senhor presente, que pareceu entender meu desespero e minha ignorância, com um sorriso compreensivo ao meu desconhecimento, interveio olhando para mim: "Ele está perguntando seu nome". O mal estar e o desespero daquele momento passa á forma de alívio, aí consigo falar o meu nome e mais nada. Em seguida, vem um sentimento de confusão e fracasso, por não ter entendido um coisa tão simples e sem importância, o que me deixou mudo, até que saísse daquele ambiente.
        Existem expressões comuns nacionalmente na língua portuguesa com significados absolutamente distintos por regiões, são espécies de dialetos (que gostamos de chamar de sotaques). Algumas expressões se perdem com o tempo, outras pelo desuso em algumas regiões, como é o caso de “graça” como “nome” do indivíduo, que já foi comum antigamente em nossa região, mas há muitos anos deixou de ser usada com este sentido, tanto que, contava, naquela ocasião, com mais de dez anos de idade e nunca havia sido interpelado com a expressão “graça” como sinônimo de nome. A riqueza do nosso vernáculo é incomparável, não sei se existe outro idioma na terra com tanta versatilidade e recursos, nem mesmo o próprio português em outros países é tão rico, uma vez que a nossa dimensão continental e as várias colonizações com suas influências, além das línguas indígenas e de origens africanas, enriquecem nosso vocabulário de uma maneira bastante incomum.
        Para mim, naquele momento a graça deixou de ser apenas alguma coisa engraçada, ou a prima, ou a colega de escola, que em verdade normalmente é Maria das Graças, mas no dia a dia, termina virando apenas “Graça”. Meu entendimento se estendeu, sendo mais que a graça recebida por obra do milagre, ou o benefício grátis, do gratuito ou do “de graça” oferecido pelo comércio em suas promoções, passou a ser muito mais, pois neste mergulho descobri outras graças e aprendi que dar graças às boas coisas da vida era fundamental para muitos e, que buscar a graça em cada instante da vida era mais que uma obrigação, era um dever para quem pretende ser feliz nesta existência.
        Conheci um cidadão, aqui em Feira, que costuma afirmar que as três expressões de que mais gosta de ouvir, são: “grátis”, “de graça” e “não custa nada”. Eu que prefiro a expressão de que “quando a esmola é demais até o cego desconfia”, não sou muito adepto ao pensamento do tal sujeito, prefiro a cautela do que o espírito aproveitador de oportunidades, e nem sequer acho graça do tal pensamento oportunista e “esperto”.
        A graça está em tudo na vida, e pelo Brasil afora, essa pequena palavra de significado milagroso e imensurável que é originária do latim “gratia”, e que significava: reconhecimento, agradecimento, favor, benevolência, beleza; perdão, vênia, se estende no nosso vocabulário e ganha proporções que só mesmo nós brasileiros, com nossa diversidade e criatividade conseguimos construir. A graça não é só uma expressão para agradecer ou para indicar que é “de graça”, é a elegância e leveza de formas, do porte, dos movimentos, é a graciosidade dos artistas, é a qualidade do que é engraçado, do que é cômico, do que é divertido, pode ser uma brincadeira, um divertimento, uma momice. A verdade é que tudo tem sua graça, e as graças é que encantam nossa vida e nosso dia a dia.
        A graça pode ser mal usada também, como para humilhar, através de gozações que fazem graça para quem não é atingido, mas que é dolorido para a vítima da brincadeira. A importância da graça renasceu em mim enquanto acompanhava uma distribuição de presentes de Natal promovida pelo Grupo Olhares Negros, sob a liderança de Carmen Silva, na favela (invasão) Francisco Pinto em Feira de Santana, próximo ao Bairro Aviário, quando uma das moradoras do local respondendo a uma interpelação minha sobre o comparecimento e a presença do poder público no local, respondeu da seguinte forma: "(...)é a primeira vez que estão fazendo esta graça aqui para as crianças(...)", fazendo referência aos presentes que estavam sendo distribuídos aos meninos da favela. A emoção daquele momento teve uma graça especial para os moradores da invasão, do mesmo modo que para os membros do Olhares Negros, que fazem este trabalho já há alguns anos, de coração, pois nada buscam em troca, exceto o prazer de dar, de doar, e de ver a felicidade de crianças carentes, que por sua vez começam a entender o sentido da doação espontânea, e quem sabe, criar neles a possibilidade de  entenderem um pouco da bondade e da graça  humana. Isso é uma graça especial.



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