Um amigo, grande poeta, lançou livro e teve a honra de contar com a presença ilustre de Millôr Fernandes.
Tascou lá:
“Ao Millôr, com quem muito aprendi.”
O genial humorista, cartunista, escritor, pensador, tradutor e dramaturgo leu a dedicatória ali mesmo e comentou:
– Não aprendeu não.
O poeta ficou a noite toda com a pulga atrás da orelha. Não sossegou enquanto não tirou satisfação:
– Desculpe, mas o que você quis dizer com “Não aprendeu não”?
E Millôr, sorrindo:
– Quis dizer que não tenho o que ensiná-lo, pois não sou poeta. Você, sim, é poeta e dos bons!
Ufa! Que alívio.
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O cartunista Jaguar lançou um livro de crônicas, “Confesso que bebi”, e fez lançamento no bar Bracarense, no Rio de Janeiro.
Para não encarar a fila de autógrafos, o ator Otávio Augusto comprou o seu exemplar, encostou-se ao balcão, pediu um chope e uma caneta, e ele mesmo resolveu o assunto:
“Ao grande ator Otávio Augusto, com um abraço do Jaguar”.
No fim da noite mostrou ao autor.
– Como você sabia que eu ia escrever exatamente isto? – perguntou Jaguar.
– Simples: tenho mais de cem dedicatórias iguais a essa em casa...
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Tá lá na folha de rosto do livro de contos, crônicas e poemas do escritor e compositor Aldir Blanc, “Um cara bacana na 19ª” (Editora Record), lançado ainda no século passado:
“Pro Pimentel, amigo mesmo, desde os tempos do Dreher com o Paulo Emílio...”
Eu estava com amigos no bar da livraria, todos mais dois lá do que pra cá (como no bolero do autor), quando um folheou o volume e estancou na dedicatória:
– O que quer dizer Dreher?
– Um conhaque.
– E Paulo Emílio?!
– Um poeta e letrista da MPB, amigo nosso.
Deu um gole profundo e sentenciou, aparentemente sério:
– Nada como um autógrafo para revelar a natureza de um livro.
Todos se entreolharam. Ninguém entendeu nem comentou nada.
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Conhecido meu foi à noite de autógrafos do escritor famoso e ficou intrigadíssimo com a dedicatória:
“Ao fulano, a respeito de quem não resta a menor dúvida!”
Muitos anos se passaram, mas até hoje ele abre o livro, sozinho, reler aquilo e se pergunta:
“Que diabo ele quis dizer?!”
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Uma vez fui autografar exemplares de um livro infantojuvenil chamado “O bravo soldado meu avô” em um colégio.
O garotinho na fila perguntou:
– Pode dedicar pra mim e pro meu avô?
– Claro. Como é o seu nome.
– Thiago, com h.
– E o dele?
– Vovô!