O Museu Casa do Sertão, fundado em 30 de junho 1978, celebra idade nova. O pioneiro entre as instituições museológicas da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) é responsável por desenvolver ações para dinamizar o patrimônio cultural sertanejo. Ao aniversariante, novos desafios se projetam, ou seja, fruir memórias, sua apropriação e recriação, estimulando especialmente, as novas gerações. Aspectos que lhe confere feições de um importante lugar-memória de Feira de Santana BA, que entre outros aspectos, fomenta o 'conhecimento de mundo' interconectando sentidos entre museu e o seu entorno.
Para celebrar a ocasião, convidamos a população a participar da programação cultural oferecida no Pavilhão Anexo Lucas da Feira. A retoma de atividades se dá após o espaço passar por reestruturações, com a renovação das instalações elétricas, do sistema de iluminação, intervenções de paisagismo, reordenamento espacial cenográfico e museológico, além, das obras de acessibilidade, em curso no campus.
O acervo iconográfico trazido com a exposição Afrocentrada: Representação Feminina e Ancestralidade na Poética Visual de M. Graças, brinda o público com uma pauta interativa com objetos artísticos concebidos por Maria das Graças Santana Oliveira. Nas peças são evidenciados a centralidade dos legados culturais da mulher negra. A inspiração advém da sua própria história de vida e das heranças, cosmovisões de pertença e ancestralidade, que compõem o arranjo expositivo de uma arte quase que narrada, como contos, onde cada peça remonta a uma experiência pessoal, testificando o protagonismo de um peculiar processo criativo, feminino e negro.
A mostra, primeira individual, reúne a produção de duas décadas, um considerável conjunto de esculturas em cerâmica e mosaicos, cuja função é ampliar e diversificar o debate sobre a centralidade de fenômenos estéticos do patrimônio afro-brasileiro, oportunizando assim, o contato com panoramas reflexivos, sobre o 'estar no mundo' desta artista, a qual maior referência são os aprendizados adquiridos enquanto filha de artesã que confeccionava cestos, caçuá, abanos com cipó, palha de coco e outros materiais.
Nascida no ano de 1956, na cidade de Castro Alves, aos seis anos, M. Graças mudou-se para Salvador, e na década de 1980, quando casou-se, passou a morar em Feira de Santana. Seu contato com a cerâmica teve início na infância, quando começa a produzir pequenos objetos de barro. Lembra com orgulho que em 2006, ingressou nas oficinas de pintura, cerâmica, mosaico, entre outras, oferecidas pelo CUCA-Centro de Cultura e Arte, e que lá pôde exercitar livremente e aperfeiçoar suas habilidades.
Recebeu menção pela Universidade Estadual de Feira de Santana através da publicação da sua obra A Cegonha, no Catálogo Oficina de Criação Artística do Cuca em 2011, obra que integra a presente mostra. A Participação ativa em movimentos culturais em Feira de Santana, lhe serve de grande incentivo, um exemplo foi a recente participação na Exposição Coletiva Conexões no Museu Regional de Arte, com grande repercussão.
As obras da artista visual M. Graças se configuram como verdadeiras manifestações plásticas em que a forma estética se molda a abstrações, turbantes, flores, aconchegos, grávidas, bicos de peito, amor de mãe, girassóis e a representação em mosaico de sua neta, numa recusa propositiva ao olhar ortodoxo, opta, por atravessar paradigmas representacionais africanos.
A mostra fica em cartaz de 11 de julho a 01 de setembro de 2023.