Professores, pesquisadores e estudantes de mais de dez estados do Brasil e de outros países estão reunidos na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) para discutir a 'Saúde como Direito das Populações Vulnerabilizadas'. As atividades ocorrem durante o 2º Seminário Norte-Nordeste sobre Saúde da População Negra e o 4º Seminário Internacional sobre Racismo e Saúde. Na tarde desta terça-feira (06) o tema de uma das mesas foi 'Vulnerabilidades e Determinantes Sociais da Saúde dos Povos Tradicionais do Norte e Nordeste'.
    A professora doutora Denize Ribeiro (UFRB), pesquisadora das religiões de matrizes africanas, falou sobre a importância de aliar a academia com outras formas de produzir conhecimento. Ela ainda destacou a importância das experiências das comunidades e dos coletivos. 'Os terreiros de candomblé são espaços de saúde e de promoção da saúde. De uma saúde que tem a ver com a perspectiva de bem viver das populações andinas, onde também a gente pensa sobre a morte e que as coisas não acabam na morte. A gente tem que se preocupar em viver cuidando desse corpo, desse lugar e desse território e de ter uma boa morte', afirmou.
    A saúde da população cigana foi debatida pelo professor doutor Jucelho Dantas (Uefs). O docente ressaltou as dificuldades que os ciganos sempre encontraram para ter acesso à saúde e à educação. 'O processo de discriminação era muito forte quando os ciganos iam aos postos de saúde. Nós ciganos construímos uma espécie de bolha. A partir da década de 1980 os ciganos passaram a frequentar mais as escolas e tiveram condições de ter acesso à saúde de forma menos traumática porque o fato de residir em um município o acesso à saúde fica mais tranquilo'.
    Outro assunto abordado nesta terça-feira foi a saúde da população quilombola. A co-fundadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ), Givânia Silva, disse que não há como discutir saúde sem discutir terra/território. 'Uma coisa é completamente ligada à outra. Para nós a terra é o elemento central para se pensar educação, saúde, soberania alimentar e modo de vida. Sem o território não há como discutir questões básicas', explicou. As discussões foram mediadas pela professora doutora Socorro Castelo-Branco (UFPA).
    Mais de 900 pessoas estão inscritas nos eventos que contam com palestrantes brasileiros e de países como Moçambique, Argentina, Venezuela e Estados Unidos. Para uma das coordenadoras dos encontros, a professora doutora Edna Maria de Araújo (Uefs), o objetivo é ampliar o debate técnico-científico, político-social sobre saúde da População Negra e de outras populações vulnerabilizadas. 'É uma atividade antirracista. As instituições ao se juntarem estão afirmando que elas pretendem ter uma prática contra o racismo e qualquer tipo de desigualdade'.
    Os eventos são uma iniciativa dos programas de Pós-graduação que compõem o Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD/AM): Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Feira de Santana (PPGSC/Uefs), Programa de Pós-Graduação em Saúde, Ambiente e Sociedade na Amazônia (PPGSAS) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Programa de Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade Federal da Bahia (Ufba).  A programação completa está disponível no endereço https://seminarioracismoesaude.com.br.