menu
-Agenda Cultural
-Restaurantes
-Teatros
-Museus
-Comentários
-Fale conosco
-Política de Privacidade
-Utilidade Pública
-Links Feirense
-Artes Cênicas
-Artes Visuais
-Artesanato
-Bandas
-Literatura
-Músicos
ENTRETENIMENTO
-Cinema
-Arquivo de Eventos
-Festival Vozes da Terra
-Festival Gospel 2010
-Natal na Praça 2010
-Micareta 2011
-Últimos Eventos
-Radio Viva Feira
-TV Viva Feira
-Videos Viva Feira
COLUNISTAS
-Alberto Peixoto
-Emanoel Freitas
-Luís Pimentel
-Raymundo Luiz Lopes
-Sandro Penelú
 
 
 
CONTOS, LOGROS, ARDIS E OUTRAS ARAPUCAS QUE PRESENTEIAM FEIRA DE SANTANA

- Da série: Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana
Publicado em: 14/11/2014 - 17:11:02
Fonte: Emanoel Freitas


    Será sempre impossível, vez por outra, não relembrar o fato de Feira de Santana ser um dos maiores e mais importantes entroncamentos rodoviários do Brasil, e sem dúvida o mais importante de todo nordeste. Feira é uma mini São Paulo com características mais tupiniquins do que cosmopolita, ao contrário da capital paulista. Lá é possível andar quilômetros sem encontrar um paulistano, aqui é possível andar metros sem encontrar um feirense (apenas para guardar as proporções). Em Feira, encontramos naturais de todo Brasil, antigamente era mais fácil encontrarmos apenas pessoas de todo o nordeste, mas com os incentivos governamentais com objetivo de industrializar a região, a característica de Feira de reunir a diversidade, ampliou e  passou a trazer migrantes, também do sul, do sudeste e do oeste do Brasil. Temos que admitir, em grande parte, que o progresso vivido por nossa cidade deve-se muito a estes filhos adotivos de Feira, alguns que demonstram mais amor por esta terra do que muitos naturais, que nos abandonam e passam a falar mal do próprio torrão, e outros que não têm coragem de enfrentar o mundo, e ficam aqui mesmo, difamando essa terra "formosa e bendita", como afirma com propriedade a poetisa/compositora(2) do nosso hino.
    Com os migrantes que nos ajudam a construir esta, cada dia mais, nossa próspera cidade, e muitos que aqui passam por curto espaço de tempo, vêm também um número incontável de malucos beleza, malucos totais, doidos varridos, ladrões, golpistas, estelionatários e uma fauna imensa de "avis raras" que culminam por presentear Feira de Santana com uma péssima fama pelo Brasil a fora, mas o feirense em essência é um cidadão honesto, focado no desenvolvimento da cidade e que se orgulha profundamente de sua terra. Como agravante temos ainda o único Hospital Colônia da região, o que nos permite ter uma significativa e variada população de loucos por enfermidade na cidade, e como de vez em quando aparecem uns psiquiatras com a tese de que os deficientes mentais não devem ficar confinados, a cidade fica cheia de loucos de todo tipo e para todos os lados, outro "presente de grego" que nem sempre é lembrado pelos difamadores de Feira.
    Como a realidade não corresponde fielmente aos desejos dos bem intencionados, nada nos livrou de um cidadão que passava "visgo de jaca" nos pálpebras para fingir cegueira e esmolar nas proximidades das igrejas de Feira. Naquela época prevaleciam as católicas, e por isso mesmo, os "artistas" que praticavam este tipo de golpe davam preferência a Igreja Sr. dos Passos que é mais central e frequentada por pessoa com aparência de mais abastados. Conhecemos também um indivíduo moreno que demonstrava ser paraplégico, pois se locomovia em uma cadeira de rodas e atuava na Praça da Bandeira e a Praça João Pedreira, descobrimos mais tarde, que o tal cidadão era uma fazendeiro abastado, que havia construido sua fortuna esmolando em várias cidades da região. O número de vigaristas e deficientes mentais é incontável(3), e de uma variedade e riqueza de excentricidades digna da narrativa de bons humoristas, pois não há como punir ou condenar os loucos, uma vez que a perda da consciência já é um castigo indescritível (não que o louco vá pensar assim), então nos resta o bom humor para rir das situações mais esdrúxulas.
    Ressalte-se que nenhum destes personagens realmente eram feirenses de nascimento, na verdade a maioria aparecia e sumia no mesmo passe de mágica, tanto que será muito difícil localizar, sequer, uma sepultura de um destes personagens que desfilarão aqui na série "verdades e mentiras, ou que estejam relacionados excelente no livro de Professora Lélia Vitor denominado "Cidadão do Mundo".
    Algumas destas figuras chegavam a trabalhar, como é o caso do "GARAPA(5)", que em verdade não sabemos o seu verdadeiros nome, e que ninguém poderia lhe chamar pelo apelido, pois estava sujeito a levar uma violenta surra com um cacete(6) que ele portava dentro de um sexto. Garapa andava normalmente com um tal cesto artesanal feito de cipós, muito comum na região à época, onde guardava o cacete que era outro objeto que não abria mão de carregar. O cesto servia para levar feiras, a ganho, para as senhoras, que naquela época não dispunham da facilidade dos carrinhos de feira, e nem mesmo os carros de mão eram muito comuns. Seu trabalho se desenvolvia tanto na antiga Feira Livre, como, posteriormente, no Centro de Abastecimento.
    Em um tempo que não havia videogames, nenhuma parafernália eletrônica e, até mesmo a televisão só iniciava a programação após as 18:00 h., as crianças se divertiam, jogando bola nos campos de várzeas, ou ainda bolas de gudes, castanhas ou, quando cansavam das brincadeiras mais infantis, atentando os pobres dos malucos da cidade, e não demoraram a descobrir que não poderiam chamar Garapa por este apelido, pois o indivíduo ficava enfurecido. É comum afirmarmos que criança é um ser inocente, mas, a bem da verdade, também são extremamente cruéis, para colocarem apelido em alguém, basta descobrirem que a pessoa tem um defeito e não gosta  de que este defeito seja ressaltada por um apelidos. Assim, sempre que podiam, quando o cidadão passava a uma distancia que o moleque achasse segura, gritava "Garapa" e corriam deixando o pobre coitado enfurecido, xingando enlouquecido com o tal cacete na mão sem poder se vingar da provocação. Mas apenas chamar pelo apelido e correr de longe não dava o prazer que a molecada queria, nem a emoção que eles buscavam, desse modo inventaram, não sabemos quem, a seguinte estratégia: Garapa, além da deficiência mental, era também chegado a uma cachacinha e, era comum quando ia ou voltava do trabalho parar em vendas (botecos e bares da época), para molhar a garganta, neste momento normalmente três ou mais do espertalhões, mas nunca menos se aproximavam separadamente e o primeiro falava alto, "limão", o outro em outro ponto respondia, "água" e um, terceiro gritava "açúcar". Ahh!! Garapa segurava com firmeza o cacete que estava dentro do cesto e gritava em plenos pulmões: "MISTURA AÍ, FIO DE UMA ÉGUA!!! MISTURA AÍ, PRÁ VOCES VEREM UMA COISA!!!". A molecada caia na risada e saia correndo, não era incomum, quando estava distantes, gritarem "Garapa" para terminar de enlouquecer o pobre coitado.


GLOSSÁRIO

1 - ARAPUCA - No sentido de: armação para surpreender, emboscar; cilada, armadilha; lugar ermo ou de aspecto suspeito onde um assaltante poderia ocultar-se; emprego de esperteza com a finalidade de enganar; engodo, embuste, conto-do-vigário. (Dicionário Houaiss)
2 - Referência a Georgina Erisman
3 - Professora Lélia Vitor publicou um livro imperdível, denominado "Cidadão do Mundo", com registro de um grande números de personagens que povoaram as ruas de Feira de Santana e, que merece ser lido, pois é um registro muito interessante deste lado folclórico de Feira.
4 - ESDRÚXULA - "Fora dos padrões comuns e que causa espanto ou riso; esquisito, extravagante, excêntrico" (Dicionário Houaiss).
5 - GARAPA - "Regionalismo: Brasil : bebida preparada com açúcar (ou mel), água e/ou qualquer suco de fruta" (Dicionário Houaiss). No caso, em nossa região, a garapa era comumente preparada com suco de limão.
6 - CACETE - "pedaço de madeira resistente, mais ou menos cilíndrico, de comprimento não muito grande, ger. mais grosso numa das pontas, e us. esp. para desferir pancadas, ou para servir de apoio etc.; borduna, cachamorra, cachaporra; bengala; bastão". (Dicionário Houaiss).



Apoio Cultural:



Viva Feira
© 2024 - Todos os direitos reservados - www.vivafeira.com.br