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BANDEIRA E BORRACHA O NOSSO CSI

Da Série: Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana
Publicado em: 14/10/2014 - 21:10:39
Fonte: Emanoel Freitas


    Não sabemos a real origem, mas é fato que as populações do interior, seja de onde for, têm o hábito de valorizar e prestigiar tudo o que vem das capitais, dos grandes centros, do exterior nem se fala. Tem gente que sonha um dia ter um carro importado (pobres coitados), sem dúvida, o ápice da realização de alguns. Hoje tem mudado um pouco, mas há algum tempo, havia pessoas que se recusavam peremptoriamente assistirem filmes nacionais, alguns, inclusive, estranhavam o som dos diálogos em português, ou seja, éramos completamente colonizados neste sentido. A bem da verdade, ainda, em muitas coisas, somos bastante colonizados. Os enlatados americanos, veiculados nos canais de televisão, são extremamente eficientes em demonstrar competências, que na verdade não passam de boas ficções, e que, a rigor, no dia a dia eles não detém tais habilidades, mas nossa ignorância, não só dá crédito as fantasias, como as usa para desvalorizar o que é nosso.
    Os filmes e enlatados de temas policiais e de suspense, também denominados de dramas, mostram estórias fabulosas, com deduções a partir de alguns indícios deixados nas cenas dos crimes. A série mais pródiga neste sentido é a tal CSI, que chegou a ter três versões simultâneas, e apesar de ser uma produção americana, aqui no Brasil, chegaram ao absurdo de criarem fãs clubes, onde os membros são denominados de CSImaníacos. As estórias desenvolvidas nas três versões do seriados, contam casos de peritos que desvendam mortes em circunstâncias misteriosas, pouco comuns, e algumas aparentemente impossíveis de se resolver, em laboratório de criminalística, descritos de forma fantásticas, coisa que aproxima a realidade de uma perfeição típica da ficção. A tradução mais fiel do CSI - Crime Scene Investigation é: investigação de cena de crime. São muitos os enlatados que seguem a linha do Sherlock Holmes e que partem da investigação por analise lógica com pretensões de caracterizá-las como analises científicas.
    Quem pensa, ou quem ousa admitir que toda esta modernidade pode invejar Feira de Santana, está totalmente enganado. Em Feira as investigações com cunho científico, ou por analises psicológicas de caráter do criminoso, ou "modus operandi", já é praticamente centenária. E se já não é, está perto. As novas gerações nunca ouviram falar dos grandes investigadores Bandeira e Borracha, que garantiam a segurança da cidade, e faziam os criminosos temerem o braço longo da justiça.
    Se por um acaso um cidadão tivesse sua casa furtada, procurava a delegacia e de acordo com as características do crime, na maioria das vezes tinha até o fruto do roubo devolvido. Borracha ou Bandeira faziam entrevistas minuciosas com a vítima, e através de uma analise científica, concluíam quase invariavelmente quem havia invadido a casa do queixoso.
    Se houvesse entrado sorrateiramente, normalmente seria trabalho do perigoso João Careteiro, bandido famoso destas bandas, conhecidos pela mão leve e desculpas esfarrapadas, como quando foi pego com um rádio furtado na janela de um morador do sobradinho, e no interrogatório, afirmou a Borracha que não havia roubado nada, disse que ia passando e rádio cantou: "Me leva em teus braços, que aqui não posso mais ficar" (canção da época da lavra de Anísio Silva); como o rádio pediu ele levou.  De outra feita Bandeira prendeu João na Praça da Bandeira com o "bocapiu" cheio de sabonetes, e na maior cara de pau afirmou que não havia roubado, pois lhe parecia amostra grátis, uma vez que estava escrito na embalagem "lever" (marca de sabonete da época), e como estava dito ali "Lever" entendeu que era para levar. É claro que o apelido de Borracha, não era à-toa, apesar de já ter essa capacidade, além de seu tempo, de investigar os crimes dentro de lógicas e princípios científicos, quando o delinqüente era muito cara-de-pau entrava na borracha literalmente, e João Careteiro vez por outra levava uma boa sova para deixar de ser tão folgado e cínico.
    Outra característica de Feira de Santana desconhecida da juventude de hoje é a política de recuperação dos meliantes, que a própria população usava para reintegrar os desviantes da época. José Cupertino, por exemplo, grande comerciante do ramo de secos e molhados da cidade, hoje mais conhecido como supermercados, sempre fez esforços buscando a recuperação de indivíduos que se encontravam a margem da lei, dando-lhes oportunidade de trabalho, técnica que só veios ser colocada em prática no Brasil, em passado bem mais recente. Imagine que visando recuperar o tal do João Careteiro, Seu Zé Cupertino arranjou uma forma de lhe comprar uma carroça, para que ele passasse a fazer carretos e parasse de meter a mão no alheio. Como a maioria da população tinha medo de entregar seus bens a João Careteiro , o próprio Zé Cupertino teve que se arriscar e então passou a pagar-lhe por entregas, a cada venda que se fazia para bairros mais distantes, e que a entrega ficava por conta da loja, vez por outra, João era encarregado de fazê-la, é sabido que não era incomum as entregas de Careteiro levarem oito, dez e até quinze dias para chegar, mas sempre chegavam, ninguém tem notícia de que houvesse desvio definitivo da entrega. João Careteiro nunca quis decepcionar completamente seu benfeitor. Contam que ele vendia o produto para satisfazer suas necessidades, depois ia roubar para fazer o dinheiro e comprar o produto para entregar, mas nunca deixou de entregar. Contam ainda, as más línguas, que João não poderia comprar o produto da entrega no próprio estabelecimento de Zé Cupertino, para que este não tomasse conhecimento do desvio, então era comum dar lucro aos concorrentes de seu benfeitor para não decepcioná-lo.
    Havia também os famosos ladrões de galinha que de uma forma ou de outra sempre deixavam alguma marca para que os detetives lhe localizassem, mas se a diligência não fosse rápida só encontravam as penas, neste caso não havia como devolver o produto do roubo. Uma ferramenta muito comum na época era o tal do "pé de cabra", que era muito popular entre os meliantes, as técnicas de uso já haviam todas sido desvendadas por Bandeira e por Borracha. Definitivamente pelo que se sabe não era uma opção do Careteiro, que preferia outros meios de apropriar-se do que não lhe pertencia.
    Embora suas técnicas fossem por demais conhecidas dos principais detetives da época, João Careteiro, que sempre procurou não decepcionar Zé Cupertino, por outro lado, também, nunca se recuperou completamente. Se fosse rico seria chamado de cleptomaníaco, mas como era pobre, era ladrão mesmo. Coisas de um tempo que não volta mais. Exceto em nossas memórias.



GLOSÁRIO

Bocapiu - bolsa ou  sacola confeccionada com palha de coqueiro ou outros tipos de pindoba (impressionante que nos dicionários convencionais não trazem o significado do bocapiu)

Bandeira - O Investigador Bandeira, de saudosa memória, dá nome ao Complexo Policial da Cidade e sem dúvida é uma das personalidade do imaginário popular de Feira de Santana.

Borracha - Embora não tenha deixado uma marca tão forte como seu colega Bandeira, Borracha também é um importante personagem do imaginário popular de Feira de Santana.



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