Após longo período de suspensão das atividades presenciais de atendimento ao público, o Museu Casa do Sertão, pioneiro entre os museus da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) retoma as pautas expositivas, iniciando as comemorações alusivas aos 45 anos de sua fundação pelo Lions Club de Feira de Santana no campus universitário. A instituição que reúne coleções relacionadas aos artefatos de usos e costumes, criações artísticas populares, itens documentais e bibliográficos, encanta e conecta variados públicos e gerações, por meio da diversidade e inventividade dos seus acervos. Por ser considerado um espaço multirreferencial de aprendizagem e difusão da estética e da cultura sertaneja, em diferentes temporalidades e espacialidades, que esta retomada é aguardada com grande expectativa, já que após o período pandêmico mais agudo, o expediente externo continuou suspenso, em função da proximidade a construção do novo acesso viário da UEFS.
Como medida de cuidado com as coleções de peças, espaços e pessoas, foram realizadas melhorias estruturais e técnicas, nesse período de ações internas como: requalificação das estruturas elétricas, com instalação de iluminação cênica museológica; relocação e criação de novos espaços administrativos e expositivos; treinamentos, revisão do sistema documental museológico, conservação preventiva de acervos e a restauração de 67 esculturas da ceramista Crispina dos Santos, pelo renomado restaurador da Escola de Belas Artes da UFBA Dr. José Dirson Argolo.
No dia 1º de Março de 2023 às 15:00 h, o Museu Casa do Sertão reabre as portas e convida o público a participar de vasta programação cultural e conhecer suas novidades. Uma delas é o Memorial Eurico Alves Boaventura que referenda a importância e o legado intelectual deixado pelo ilustre feirense. No local o visitante terá contato com objetos pessoais, artefatos arqueológicos, imagens, referencias e produções bibliográficas do seu vasto universo criativo. Da mesma forma, serão apresentadas as instalações do Centro de Memória dos Povos Indígenas do Nordeste – ANJUKA, concebido em 2014 no DCHF e que agora se materializa como espaço voltado a reunir acervos audiovisuais, bibliográficos, etnográficos, projetos de pesquisa e extensão sobre e com os povos indígenas, setor que será coordenado pelas Profs. Patrícia Navarro (DCHF) e Norma Lúcia Fernandes de Almeida (DLET).
Há novidades também nas pautas expositivas de longa duração e temporárias, com mostras que contemplam grande volume de peças pertencentes ao histórico acervo, com itens que vão dos objetos de usos e costumes a esculturas, moveis, brinquedos, instrumentos de trabalho, fotografias, tecidos, imaginária e ritualísticos, e que dividem espaço com criações estéticas contemporâneas de artistas convidados, acervos que em seu conjunto, evidenciam a diversidade cultural do Nordeste, desde da esfera intima da casa até a vida social, conforme detalhado:
A exposição Tangerinos Rastro de Boi Caminhos da Saudade, do fotografo, historiador e discente da Especialização em História da Bahia UEFS Miguel Teles, pode ser traduzida enquanto poesia material sobre um enigmático personagem da cultura sertaneja que é colocado evidência por meio de relatos históricos e imagéticos, potencializados pela mescla com o acervo institucional.
Já a mostra Aqui Onde Estou por ZéCarlos Sampaio une sensibilidade e subjetividade do artista visual, pesquisador e decorador para elencar poéticas visuais contemporâneas da realidade sociocultural sertaneja, em especial, alguns aspectos de seu cotidiano, que se tornam evidências de relatos construídos com feições realistas, figurativas e que perpassam saberes estéticos, históricos, geográficos e sobretudo de crítica social.
Diversificando os sentidos, temos a exposição Entre Sons e Formas Percussivas: A Inventividade de Zé das Congas que traça um panorama da efervescência criativa de uma reconhecido personalidade artística local e propõe um passeio por formas criadas a partir da técnica de entalhe em madeira, expostas em quadros e na criação e recriação de instrumentos musicais que reverberam nos diferentes espaços de Feira de Santana e consolidam um vasto repertório de solidariedade e compartilhamento de saberes com as novas gerações, por meio de seu vigoroso trabalho social comunitário.
Por falar em solidariedade importante referendar o legado deixado pelo artesão e cordelista Ademar Araújo, falecido no mês de fevereiro deste ano, em vida este fez uma vultosa doação de brinquedos criados com movimentação mecânica e que encantam pela simplicidade e peculiaridade de cada peça, fruto do reaproveitamento de materiais, embalagens e brinquedos, por muitos considerados inservíveis, mas que tomam inusitadas formas na exposição Brincadeira de Artesão.
Amostra Barro, Encontros e Memórias na Arte de Crispina dos Santos enfoca o fazer cultural e artístico da artesã feirense Crispina dos Santos. Em destaque, uma instigante Expografia que ocupa um novo espaço do museu para delinear um sertão imagético elaborado pelas mãos de uma genuína representante da modelagem em argila de Feira de Santana. São expostas 67 peças, restauradas em Salvador pelo Studio Argolo e que agora são apresentadas ao público. A exposição conta ainda, com duas instalações: a primeira tem por base o emblemático ensaio fotográfico “ O presépio sertanejo de Crispina dos Santos”, registrado pelo artista e arquiteto Juraci Dórea, publicado na Légua & meia Revista de Literatura e Diversidade Cultural, UEFS (v3, n 2 2004) em preto e branco, propondo um contraponto ao colorido das peças que ocupam a sala. A segunda instalação, tem por base as pinturas da artista visual Emilly Sisnando e sua leitura lúdica sobre a figura de Crispina, e enfoca a relação com o universo infantil, as obras fazem parte de seu projeto de pesquisa artística “Recorte do Nordeste” e foram expostas durante a pandemia nas ruas do centro da cidade, no âmbito do Projeto Favela é Isso Aí, apoiado pela Belgo Bekaert.
É possível ainda visitar na área verde do museu, a exposição coletiva composta por obras com material de reuso, dispostos nas arvores, postes e em murais nas paredes do Museu, com técnicas variadas como grafite, pintura a óleo e acrílica, participam os artistas Luciano dos Anjos, Priscila Lopes, Dan luz, Simone Rasslan, Charles Mendes, Leilane Oliveira, Sinistro, Gaspar Medrado, Gabriel Ferreira, Cida Porto, Marcos Oliveira, Elielton Reis, Adrielen Aragão, Tertuliano Rico, Camila Borges, Matheus Guimarães, Júlio Firmo, Jean Lima, José Arcanjo, entre outros.
Cristiano Silva Cardoso
Diretor Museu Casa do Sertão UEFS