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DOUTOR PIRAJÁ - NOSSO PANTALEÃO MUITO MAIS CRIATIVO

Da série : Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana
Publicado em: 10/12/2015 - 16:12:49
Fonte: Emanoel Freitas


    Os tempos mudam. Acabei de escrever esta frase no meu smartfone, para um amigo que não vejo há uns vinte anos, e que, por mágica destas novas tecnologias, nos encontramos no facebook, e já me acompanha também no twiter, instagran e whatsaap. Reatamos a velha amizade e trocamos informações gerais, e as saudosas dos amigos comuns. Hoje nas reuniões sociais não faltam assuntos para animar e dinamizar os encontros. Toda esta quantidade de informações decorrente de tantos meios de comunicação tem tornado quase todo mundo muito falante. É claro que a lógica não pode ser responsabilizada pelos entendimentos e interpretações equivocadas que as redes de comunicação soltam no ar e na internet aleatoriamente, de modo que o convívio social anda com um dinamismo sem precedentes na história humana. Todos tem o que falar e, por isso mesmo, parece que desaprenderam o hábito de ouvir. Bom, esse é um problema que certamente terá suas consequências, e as naturais soluções pela própria dialética, como diria meu velho amigo e filósofo das horas vagas, Arquimedes.
    A verdade é que nem sempre foi assim, antigamente tínhamos apenas os rádios AM, que enchiam as casas com informações, poucas, e muitas vezes já ultrapassadas, pois a comunicação andava a “lombo de burro”, o que tornava o convívio social bastante diferente. Tínhamos os contadores de histórias e estórias, normalmente pessoas desinibidas, alguns eruditos, outros muito criativos, e estes eram os que faziam mais sucessos em qualquer reunião social, pois traziam em suas estórias a capacidade de divertir e invariavelmente de provocar risos, o que tornava necessário que houvesse sempre um parceiro que confirmasse as estórias, para dar-lhes peso e aparência de veracidade.
    Chico Anísio consagrou este estereótipo em seu programa "Chico City", através de um personagem que se caracterizava pelo exagero das estórias que costumava contar, beirando quase sempre ao absurdo. O personagem era Pantaleão, que fez sucesso absoluto durante muitos anos, e até criou jargões, que eram repetidos em todo Brasil, e que permaneceram em uso, mesmo após o personagem não estar mais sendo exibido, como: "...tô mentindo Terta?", pergunta que fazia a esposa sobre a estória que acabara de contar, para que ela confirmasse, ou "...cala a boca Pedro Bó...", em reprimenda a um afilhado seu, que sempre estava presente durante as contações de estórias, mas que invariavelmente fazia interferências pouco inteligentes ou redundantes. A bem da verdade, o estereótipo de Chico, para nós, em Feira de Santana, não apresentava nenhuma novidade, sempre nos pareceu uma cópia um tanto quanto modificada de um personagem inesquecível que viveu em nossa cidade, e que divertiu muita gente nas boas reuniões sociais daquela época.
    Muito conhecido e respeitado na melhor sociedade feirense, como médico e cidadão exemplar, Dr. Pirajá, nunca deixava um bate-papo cair na rotina ou ficar monótono, logo que surgia um gancho na conversa ele apresentava uma história, e pronto, era a conta de reunir pessoas em volta da sua mesa para apreciar. Se não surgisse o tema que desse margem a qualquer de suas histórias começava falar de seu carro, um Citroen, que era no mínimo o melhor veículo do mundo, com o qual fez viagens absolutamente fantásticas. Imaginem que neste Citroen Dr. Pirajá fez uma curva tão fechada, mas tão fechada que no meio da curva enxergou a placa traseira do carro.
    Se como indivíduo e médico era uma pessoa inacreditável, que inclusive atendia as pessoas mais pobres gratuitamente e ainda arranjava remédios para seus pacientes menos favorecidos, firmando-se como um profissional exemplar e extremamente sério e competente, quando se reunia com amigos em eventos sociais, também era insuperável como contador de estórias que eram muito mais inverossímeis do que as do personagem do grande humorista brasileiro.
    Dr. Pirajá frequentava, praticamente, todas as reuniões sociais da cidade, pois considerado e respeitado por todos, e assim era convidado para os melhores e mais importantes eventos, numa época em que quase todos feirenses se conheciam, e ele pelo seu trabalho social e profissional gozava de prestígio em toda cidade. Aliando-se ao bom caráter reconhecido por toda sociedade da época, divertia-se contando as exageradas estórias, nas quais ele próprio era o personagem central e a esposa Mariinha sem dizer uma palavra assentia a todas indagações que ele lhe fazia para confirmar os causos. Alguns maledicentes da época afirmavam que ela não confirmava nada, na verdade tinha um sexto em se balançava sempre positivamente o corpo e parecia estar respondendo em concordância com as estórias. A bem da verdade esta atitude era outra semelhança entre ele e o personagem de Chico Anísio, que nesta época ainda não existia.
    Conheci Dr. Pirajá na residência de Francisco Dórea, a quem considerava um Tio por ser casado com Elvira, prima carnal de meu pai, e que pelo fato de terem sido criados juntos na casa de Senhora Araújo, me dava o status de tia por consideração, e o bom doutor não faltava as reuniões realizadas por aquela família, sendo inclusive compadre, por ter batizado um dos filhos do casal.
    Eram muitos encontros, os Dóreas tinha, salvo engano, oito filhos, ou seja, no mínimo oito aniversários por ano, nos quais Dr. Pirajá estava presente em todos, nossa família também estava sempre nos eventos, de modo que presenciei muitas estórias daquele mestre de causos incomuns e muitas vezes absolutamente inacreditáveis. Até mesmo as crianças, que não costumam se interessar por conversas de adultos, se reuniam para ouvir, quando começava contação as estórias. Certa feita tomei conhecimento do asfaltamento da rodovia Feira-Salvador, ressaltado quando doutor Pirajá lembrou que logo quando pavimentaram a tal estrada (BR. 324), gabando ser um asfalto de primeira, quando voltava de uma viagem a Salvador, na altura da Igreja dos Capuchinhos, um menino atravessou a pista correndo atrás de uma bola, ele que vinha em seu Citroen em alta velocidade, deu um freio tão violento, que após ter passado uns cem metros do local, olhou para trás e observou que os meninos estavam tirando a borracha dos pneus do asfalto para fazer badogue. Na verdade não era só o asfalto que era de primeira, a borracha dos pneus também não era brincadeira.
    Vez por outra envolvia familiares nas estórias. Relatando uma viagem feita para Salvador, as pressas, em razão de uma urgência para socorrer um paciente que se encontrava na capital, e que só confiava em seus diagnósticos, acompanhado de sua filha Miriam, em seu famoso Citroen, desenvolvia velocidade tão grande, que a menina tendo colocado uma pequena vara de bambu para fora do carro pela janela, ele só ouviu o barulho, tá-tá-tá-tá-tá-tá, do bambu batendo nos marcadores de quilometragem da BR. Ressalte que os marcadores tinham distância de um quilômetro de um para o outro.
    Nunca faltavam boas e inacreditáveis estórias a Dr. Pirajá. De outra feita, ou para ser mais exato, em outra festa, o Dr. relatou uma caçada que fez em uma região perto de seu sítio em Humildes, e a certa altura da jornada sentiu uma forte dor de barriga, como não havia outro meio, teve que se aliviar ali mesmo, no mato , assim, procurou uma boa moita, e como tinha o hábito de só ir ao sanitário completamente sem roupas, tirou-as e colocou sobre a moita, o relógio, no entanto, um suíço de primeira linha automático de 25 rubis, tirou do braço e colocou em um pequeno arbusto que havia ao seu lado. Terminando de se aliviar, vestiu a roupa e continuou sua caçada durante todo o dia, e só depois que chegou em Feira em sua casa na rua Georgina Erisman, à noite, é que se deu conta de que havia esquecido o relógio no pequeno arbusto que havia pendurado no mato. Era um bom e caro relógio suíço, último modelo, automático, mas não havia como voltar mais naquela altura da noite e conseguir localizar exatamente onde o teria deixado, assim teve que esquecer o relógio. Ainda segundo Dr. Pirajá, alguns anos depois, caçando nesta mesma região, em um verão de sol abrasante e calor insuportável, procurou uma árvore para se proteger e descansar um pouco, sentou-se em uma boa sombra e logo que se acomodou ouviu o barulho, tic-tac, tic-tac, curioso subiu na árvore e la estava o relógio suíço funcionando perfeitamente sem atrasar um minuto sequer. Neste momento alguém interpelou: "Mas Dr. como é que pode o relógio ter funcionado esse tempo todo sem ninguém dar corda?"; no que ele respondeu, "ora meu filho o relógio era automático de primeira linha, e nesta região venta muito, toda vez que o vento balançava os galhos da árvore dava corda no danado. Não foi Mariinha?" e D. Mariinha se movimentou na cadeira como se estivesse concordando com o bom doutor.
    Como afirmei inicialmente nosso Pirajá era melhor que qualquer Pantaleão que possa ser encontrado por aí.
 
 
GLOSSÁRIO
- Antes de finalizar a crônica que homenageia e rememora o saudoso Dr. Pirajá, reunimo-nos, eu, Silvio Dórea e José Carlos Dórea, e avivamos as estórias vividas por nós em época rica de relções fraternas, quando Feira era uma cidade bem diferente. A fotografia de Dr. Piraja, foi um corte retirado de uma foto do acervo de Silvio Dórea de uma reunião social em casa de seus pais, Chiquinho e Elvira Dórea.



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