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CANTAREIRA E A VANGUARDA NA MODA FEIRENSE

Da série : Verdades e Mentiras sobre Feira de Santana
Publicado em: 11/07/2015 - 01:07:50
Fonte: Emanoel Freitas


    Gordurinha, humorista, compositor, radialista e cantor baiano, consagrou muitas músicas de sua autoria no cenário nacional, dentre seus grandes sucessos além do maior de todos o "Chiclete com Banana", também acumulou muitos outros êxitos, a exemplo de "Súplica Cearense", "Baiano Burro Nasce Morto",  "Vendedor de Caraguejos", "Mambo da Cantareira", entre outros que fizeram muitos sucessos na interpretação de grandes artistas da época. Alguns destes sucessos foram compostos no Rio de Janeiro para satirizar a vida dos migrantes nordestinos que iam para lá tentar a sorte e melhorar de vida, o que não acontecia sempre, necessariamente. O "Mambo da Cantareira" tem uma marca especial para nós feirenses, pois culminou em dar nome a um "maluco beleza" que andou durante muitos anos nas ruas de Feira e que até o nome próprio teve esquecido, em face de sua obsessão pela canção jocosa de um dos mais importantes e injustiçado compositor baiano.
    Diz a lenda, que o cidadão não apresentava nenhum sintoma de desequilíbrio, era um trabalhador que gostava de "vez em quando" de tomar umas pingas com os amigos, mas que exagerava sempre, quando naturalmente perdia o controle e passava a ter um comportamento diferente e exótico, principalmente para época. A bebida alcoólica tem a qualidade de dominar o indivíduo aos pouco, e o nosso personagem envolveu-se cada vez mais com ela, até se tornar um bêbado contumaz, na mesma época que começou a fazer sucesso no rádio, a canção de Gordurinha: "Mambo da Cantareira", que por alguma razão encantou o cidadão, fazendo com que toda vez que aumentava de forma significativa seu consumo alcoólico, danava a cantar em voz alta, a plenos pulmões, pelo meio da rua um trecho da tal cantiga: "Ei Cantareira, ei Cantareira!
    Não demorou de ficar marcado por essa atitude, e com isso todas as pessoas que viam as cenas, a cada dia mais comum, passaram a denominá-lo de "Cantareira". Com o tempo, mesmo são, quando andava nas ruas, sem estar bebendo, era comum as pessoas afirmarem: "...lá vem cantareira...", de modo que seu nome de batismo caiu em total esquecimento, tornando-se de forma definitiva em "Cantareira", figura que passou a fazer parte das lendas urbanas do Minadouro e da região do baixo meretrício da época.
    A música, como indica os dados biográficos do compositor (brilhante, diga-se de passagem), faz parte da safra de Gordurinha composta quando residia no Rio de Janeiro pela primeira vez, na qual não teve sucesso nessa investida no sul e que ironiza a realidade do dia a dia dos nordestino no Rio: "Só vendo como é que dói / Só vendo mesmo como é que dói / Trabalhar em Madureira / viajar na Cantareira / E morar em Niterói / Ei Cantareira / Ei Cantareira / Ei Cantareira / Vou aprender a nadar...", sendo a Cantareira o nome de uma das Barcas que fazia a travessia Niteroi/Rio de Janeiro e vice-versa. Madureira é um forte bairro comercial, distante do centro e na zona da norte da cidade maravilhosa, ou seja, distante de Niteroi. Nunca vamos saber se a obsessão em cantar o mambo seria por mera simpatia, em razão do ritmo animado da canção, ou na verdade refletia uma experiência do próprio Cantareira morando em algum período na Capital Federal.
    Cantareira passou a mostrar seus sintomas de desequilíbrio, que aliado ao uso excessivo do álcool, passou a se comportar de forma completamente estranha, a ponto de embebedar-se nos bares  do entorno ali do "Minadouro", onde concentrava a maioria dos pontos da boemia de então, e estando alto, passava pelos quintais dos bordéis da região, que eram muitos, e roubando uma calçola qualquer, que pudesse vestir, tirava sua roupa dobrava e colocava em baixo do braço, e vestido apenas de calçola saia pelas ruas da cidade, até que alguém ligasse para polícia, que normalmente  recolhia o estranho exibicionista ao Xadrez, onde curava o porre e então era liberado.
    A Bahia sempre manteve características muito próprias, inclusive na linguagem, e se me lembro bem era o único estado onde a calcinha era chamada de calçola, não existiam no mercado as calcinhas produzidas por grandes empresas, em renda ou de loungerie , etc . Na verdade as calçolas eram confeccionadas em tecidos simples de algodão com elástico que as mantinham presas à cintura. Não se ajustavam ao corpo da mulher como suas modernas sucessoras, que a bem da verdade, Cantareira chegou a usar muitas, as quais mantinha uma preferência especial pelas cores vermelhas.
    Não pensem amigos leitores que Cantareira era homossexual ou coisa que o valha. Quem ousasse fazer qualquer gracinha teria que ser bom de corrida, pois Cantareira ficava bravo e perseguia o engraçadinho. Deboches? Só a uma boa distância que desse para desaparecer com rapidez.
     Nunca ouvimos de quem quer que seja, qualquer explicação lógica para a mania de Cantareira, de roubar as calçolas das prostitutas e desfilar com elas pelo meio da rua, ainda que sempre terminasse na cadeia pública em virtude de sua atitude. Não era um crime, que na época merecesse qualquer registro, ou mobilização do judiciário. Era comum e estava sempre acontecendo. Nem as pessoas levavam a sério, nem as autoridades. Era apenas motivo de graça e deboche, como muitos outros comportamentos esquisitos de uma comunidade. Acontecia e pronto.
    Cantareira desapareceu das ruas de Feira de Santana, da mesma forma que apareceu, sem nenhuma origem ou explicação. Seu nome de batismo ninguém se lembra. Muitos recordam do personagem com um sorriso provocado pela exentricidade e teimosia do maluco beleza. Os mais jovens, a maioria nunca ouviram falar de Cantareira, e muito menos de sua inspiração vanguardista, quando nenhum homem em Feira teria coragem de usar peças íntimas femininas em público.
    O que nos causa espanto é que quando surgiu a tropicália na década de 1960, homens passaram a usar, saias, sarongues e até blusas parecidas com bustiês, como se fosse uma grande atitude revolucionária nos costumes da época, quando Cantareira, há muito tempo, já desfilava nas ruas de Feira de calçola, para todos os lados, e orgulhosamente.


NOTAS:
- O personagem é real e os fatos são públicos embora não haja registro efetivo da existência civil de Cantareira.
- A Professora Lélia Vitor em seu livro "Cidadão do Mundo" realiza o registro das andanças de Cantareira de calçola pelas ruas de Feira, mas em sua pesquisa também não conseguiu descobrir o nome de batismo do personagem.



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