Por volta da metade do século passado não eram poucos os estudiosos que afirmavam, com certeza própria dos que sabem das coisas, que o crime violento estava com os dias contados, inevitavelmente tendia para o desaparecimento, com a educação, que se popularizava, e o desenvolvimento dos meios de comunicação, instrumentos infalíveis para melhorar a raça humana. Por outro lado, garantiam, haveria de crescer a incidência dos delitos de habilidades, os golpes, a simulação, o exercício ilegal de profissão, o comércio e uso de substâncias tóxicas e entorpecentes, o charlatanismo, o curandeirismo, a moeda falsa, a emissão de títulos falsos, a falsificação de papeis públicos e particulares, a falsa identidade, o peculato, o emprego irregular de verbas públicas, a corrupção, o contrabando, o descaminho, a prevaricação, a advocacia administrativa, a violação de sigilo, a exploração de prestígio, as fraudes e outros crimes apresentados ou correlatos.
A educação, vastamente difundida, ao alcance de todos, a proliferação de universidades e os modernos instrumentos postos a serviço da raça humana, como a eletrônica, a televisão, o computador, haveriam de inibir o hábito do roubo, do latrocínio, do tranco, da capoeiragem, da navalha, do trabuco, do bacamarte, enfim, da violência física, conduzindo o homem para a criminalidade sofisticada e elegante, do tipo que recebeu o nome de “colarinho branco”.
Falharam as expectativas que não eram somente de nacionais, mas de renomados mestres de outras partes do mundo, porque o crime, como manifestação social, cresceu e vem crescendo em todos os sentidos e todas as dimensões e ninguém sabe afirmar, hoje, o que mais atormenta o pouco da humanidade ainda não dedicada ao crime, se a atividade criminosa truculenta e malvada ou se a outra, a mansa a sub-reptícia, que está a minar atividades políticas e privadas.
Ninguém sabe, exatamente, a causa de tanta criminalidade, que envolve delinqüentes de ruas, homens e mulheres do povo e altos e destacados membros das classes dirigentes, funcionários públicos ou míseros favelados.
Há quem diga que é a miséria, outros garantem que a culpa tem que ser da televisão. O problema, entretanto, é mais profundo e nem os técnicos em educação, nem os diversos conselhos em que andam metidos e falantes conseguem decifrar os mistérios que envolvem o caso espantoso, mas constatado, de que a criminalidade cresce com o progresso do sistema educacional.
De conselhos, aliás, anda cheio o país e de tal sorte conselheiros proliferam e com resultados tão desastrosos, que há quem sinta saudade dos tempos em que conselho havia somente um, em cada município, cuja obra maior era a do curral, o “Curral do Conselho”, onde cavalgaduras eram recolhidas e postas a leilão.
Isto, entretanto, deve ser cogitação dos que dirigem a pátria. O caso que está a merecer redobradas atenções das autoridades, é o dos assaltos a ônibus, que vêm crescendo de modo a intranqüilizar, ainda mais, a desprotegida população trabalhadora e honesta. Há assaltos na cidade e assaltos nas estradas com despropositada e aterradora violência contra pessoas, que vai do homicídio ao estupro.
Andar nas ruas é perigoso e trancar-se em casa não significa obstáculo aos bandidos cada vez mais violentos e agressivos. Agora, entrar em um coletivo pode significar prejuízos, transtornos, morte ou grave lesão à honra e à dignidade.
Chegará a hora em que todos terão que ser bandidos, na esperança de poder sobreviver em paz? Temos uma república de delinqüente. |