Suposto, na linguagem comum, sempre foi o que não é real, mas fingido, hipotético, falso e enganoso embora se apresente como verossímil ou admissível. Particípio passado do verbo supor, significa o que é apresentado falsamente no lugar do legítimo ou verdadeiro. O Pe. Vieira usou a palavra neste sentido: “Quantas vezes, com nomes supostos, se roubam os prêmios ao benemérito?” Suposto tem um sinônimo esquecido e desprezado, supositício, que ainda figura nos dicionários, aplicável ao que é falsamente posto no lugar do que é autêntico.
O mundo é testemunha de indivíduos que têm aparecido fazendo-se passar por personagens famosas, vivas ou mortas. Alguns alcançaram êxito, embora passageiro, e granjearam sucesso entre as massas. Afirma a História que falso Nero teve que ser derrotado pelo imperador Othon, na Ásia, onde teria reunido exército e seguidores anos depois da morte do verdadeiro imperador romano. Outro falso Nero teria surgido na Grécia dando trabalho aos romanos. Suposto Alexandre, o Grande, teria causado intranquilidade e desordens, em Roma, onde reuniu considerável número de seguidores. Foi preso e condenado às galés. Já houve um falso Agrippa, referido por Tácito, e pelo menos um também falso D. Sebastião, de Portugal, o monarca que herdou o trono ainda na barriga materna, foi rei com três anos de idade, começou como o “desejado” e terminou como o “encoberto” depois que desapareceu sem deixar rastros na batalha de Alcácer-Quibir, em 1578, quando liderava exército de cristãos contra árabes. Mereceu referências na obra de Camões e ganhou fama de“adormecido”, que voltaria a Portugal em dia de nevoeiro para livrar o país de tribulações e do domínio estrangeiro. Tamanha força ganhou a esperança da volta de D. Sebastião para resolver dificuldades, que nos sertões bahianos, durante a Guerra de Canudos, Euclides da Cunha recolheu, entre os matutos, versos que se referiam à esperada volta do malogrado monarca: “Lá vem D. Sebastião/ comandando regimento/ acabando com o civil/ e fazendo casamento”. No começo da República, quando se separou aIgreja do Estado, o recém estatuído casamento civil encontrou forte resistência no seio do povo acostumado a viver sob a teocracia do Império.
A Constituição de 88 aceitou o que já existia em várias constituições sul-americanas: o princípio da não culpabilidade da pessoa indiciada em inquérito policial ou acusada em processo criminal antes de sentença definitiva e condenatória. O princípio teria se originado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, embora haja notícias de sua aplicação na antiga Roma.
Adotada constitucionalmente a presunção de inocência, os responsáveis pelos noticiários, os jornalistas em geral, para evitar processos, aborrecimentos e prejuízos passaram a usar a palavra “suposto” com intensidade e abrangência, banalizando-a de tal forma que o termo vai assumindo a conotação de “sem culpa”, com o que se livra de qualquer suspeita toda sorte de criminosos, principalmente pela dificuldades de se encontrar sentenças definitivas em todo o vasto território nacional. O uso desordenado da palavra “suposto” ameaça se estender à política partidária, às campanhas eleitorais, onde tudo passa a ser realmente falso, suposto, e às badaladas obras públicas de vésperas de eleição, prometidas ou realizadas em parte, o que coloca grave dilema na vida do povo feirense: O recentemente reinauguradoe chamado aeroporto de Jaíba é suposto aeroporto ou aeroporto suposto? |