Amigo é tudo o que conta
do lado esquerdo do peito.
Às vezes, falta de jeito,
às vezes troncha lembrança.
Amigo é quando criança
o chute acerta o futuro,
bola de gude do escuro
procurando algum efeito.
Um cão mijando no muro,
colo de pai ou vingança,
amigo é tempo refeito:
pão, irmão, jogo desfeito.
Amigo é mais que a contenda,
não é impar nem é par.
Amigo é pra desempatar,
quando jogo está truncado.
Amigo, lençol bordado
nas tramas da simpatia.
Seja noite, seja dia,
amigo é pra clarear
quando escurece a baía
e a água clara se fia
num filete de saudade.
Amigo ficou na estrada,
amigo abre caminhos,
são gritos, são burburinhos
maiores que os estiletes.
Amigo, concha e colchete
na forca, no pão, no vinho.
Amigo é rodamoinho
que faz a vida girar:
seja flor
ou seja espinho.